sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Marcão era um negão boa pinta, sarado e bom de papo. Adorava churrasco, um pagode e, claro, mulher. Era casado com uma prima dos meus pais. Durante alguns anos, na minha infância, o casal, junto com a filha Gabriela, hoje uma mulher lindíssima, morou na casa vizinha à minha, em Mococa.

Professor de educação física, Marcão adorava malhar, praticar esportes e exibir os músculos. Era um tipo malandro, bem humorado, piadista, daqueles capazes de animar até velório. Batia cartão em todas as festas da família. E sempre era o centro das atenções com suas tiradas hilárias. Em especial quando fazia a sua imitação de uma bicha.


Gente boa, Marcão me deu muitas caronas na sua moto vermelha. Principalmente quando eu voltava para casa depois do treino de futebol. O campo era perto de uma escola onde ele dava aulas. E os nossos horários de saída coincidiam. Marcão, aliás, costumava guardar a moto na garagem lá de casa, já que a dele não tinha uma. Sempre que a máquina estava por lá, eu montava e brincava, me imaginando numa corrida.


Marcão foi a primeira paixão de muita menininha da rua lá de casa. Fazia um sucesso enorme entre as alunas. E não resistia a um rabo-de-saia. Me lembro dos meus pais comentando sobre as brigas entre ele a mulher, sempre que ela descobria mais uma traição. Mas a mulher era obviamente apaixonada pelo negão, e sempre acabava relevando as escapadas.


Um dia, chegou a notícia que deixaria a família toda chocada: Marcão tinha morrido. A incredulidade tomou conta de todos. Era quase uma sensação de injustiça por alguém tão jovem, alegre e cheio de vida estar, de repente, morto.


O mais impressionante foi a maneira como ele morreu. Atropelado por um ônibus, enquanto empurrava o carro, em pane, num trecho de uma estrada bem perto de Mococa. Estava acompanhado de uma amante, com quem havia acabado de deixar o único motel da cidade.


O salão do velório não foi suficiente para abrigar tanta gente disposta a se despedir do negão. As pessoas, emocionadas, se espalhavam pelo gramado e até pela calçada. Quando cheguei perto do caixão, primeiro fiquei impressionado com o estado do cadáver. As mãos, apesar de enfaixadas, tinham dedos a menos. No rosto havia grandes hematomas e na boca, inchada e entreaberta, faltavam dentes.

Ao lado do caixão, a viúva chorava de maneira copiosa, enquanto acariciava a testa e os cabelos do marido morto. A uma amiga ao seu lado, lamentava a perda do amor de sua vida.

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