quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Despedida


Ele chegou em casa com apenas algumas poucas semanas de vida. Tinha um calombo enorme nas costas, provocado, provavelmente, por uma agressão covarde. Foi adotado a pedido do veterinário amigo da família, que há anos acompanha nossas mascotes. Recebeu o nome de Max. E, em pouco tempo, já tinha ganhado nossos corações.

Filhote de pelos brancos e macios, mas dentes afiados. Travesso, adorava cravá-los nos dedos de qualquer um que se atrevesse a agarrá-lo. Daquela época, me lembro de uma vez que meu pai tentou registrar uma fotografia sua com Max no colo. Revelada, a imagem imortalizou um cachorro mascando os dedos de um homem cujo rosto demonstrava toda aflição de quem espera pelo momento sublime em que a dor cessa. Era impossível evitar as gargalhadas sempre que via esta foto.

Pois a partir de hoje, ao invés de gargalhadas, esta foto, captada 11 anos atrás, despertará muita saudade, melancolia e, provavelmente, um nó na garganta. Max se foi. A notícia chegou há pouco num telefonema de meu irmão mais novo. E foi dada com a voz oprimida pelo choro e o desespero de quem sente o coração doer.

Choro que eu segurei naquele momento para tentar acalmá-lo. Mas que libero agora ao escrever estas linhas.

Estive com Max pela última vez no final de semana. Deitado desajeitadamente na lavanderia da casa dos meus pais, tinha metade do corpo sobre uma almofada, metade no chão frio. Respirava calmamente e só esboçou reação quando minha mão direita tocou seus pelos. Depois disso, permaneceu deitado, imóvel, enquanto eu o acariciava.

Meu amigo já vinha sofrendo há algum tempo com uma série de doenças e com a cegueira em evolução. Mas só naquele dia eu tive realmente a sensação de que poderíamos perder a sua companhia muito em breve.

Vai descansar, garoto.